Especialista alerta que as escolas públicas estaduais e municipais não oferecem ensino atrativo e falta apoio, estrutura escolar para ajudar o aluno a não se desanimar
FOTO: ALANA ANDRADE (03/11/2010)
Índices de atraso e repetência, tanto em Fortaleza quanto nos outros municípios, estão acima da média nacional
A diarista Suely Galvão, 30, abandonou os estudos para trabalhar quando tinha apenas 12 anos. Suely não é a única, ela compõe a estatística daqueles que tiveram que "largar" a escola ou repetir o ano por várias vezes. Pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), divulgada ontem pelo Movimento Todos pela Educação, mostra a situação em Fortaleza: 45,4% de alunos do Ensino Médio público estão em defasagem (fora de faixa) junto com outros 35,9% do Ensino Fundamental.
Os índices de evasão e repetência estão acima da média brasileira. Em âmbito nacional 23 em cada cem alunos do ensino Fundamental não conseguiram terminar estudos no tempo correto, um total de 23,3%. No Ceará, esse número é maior, 24,8%, enquanto que em Fortaleza é de 26%.
"Esses dados revelam uma situação já muito antiga e que nunca foi priorizada. Falta um olhar mais atento e um ensino mais individualizado que atente para as dificuldades e os problemas que fazem os alunos atrasarem os estudos, repetirem ou saírem da escola". O alerta é da professora de Pedagogia da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Célia Maria Machado.
Para ela, as escolas públicas, tanto municipais quanto estaduais, não oferecem um ensino atrativo. "Os professores não sabem lidar com os problemas de cada um. Falta apoio, estrutura escolar para ajudar o aluno a não se desanimar, fazer com que ele consiga enfrentar seus problemas e se empolgue com a vida escolar", critica a professora da Uece.
Mas como garantir a permanência e evitar a repetição? Para o membro da coordenação do Sindicato dos Professores do Ceará (Apeoc), Anísio Melo, a solução passa por várias questões: maior disponibilidade dos professores com o ensino mais individualizado, melhor acompanhamento e possibilidade de um estudo integral para complementação e superação das dificuldades que "expulsam" os jovens. "Muitos abandonam ou atrasam para terem que trabalhar, por terem tido filhos, por desânimo e falta de visão de futuro. Há que se ter mais apoio", ressalta Melo.
Para ele, tudo passa pelo financiamento da educação que, atualmente, segundo o militante, está com um total de 5% do Produto Interno Bruto (PIB). O Apeoc quer ampliar para 10%.
E a diarista Suely Galvão, que foi obrigada a largar os estudos na 5ª série, continua a sonhar com o dia em que poderá estudar novamente e quem sabe ajudar seus filhos a ler. "Se a vida deixar, eu quero terminar os ensinos e voltar para a sala de aula já no próximo ano. É uma chance que vou dar para meu futuro", diz otimista a jovem, mãe de quatro garotos.
Apesar desse cenário, o Ceará ainda está em situação melhor que os demais Estados do Nordeste: é o primeiro no "ranking" com menor defasagem, tendo a Bahia (36,4%) e Pernambuco (48,4%) com maiores índices, respectivamente, no ensino fundamental e médio.
IVNA GIRÃO
REPÓRTER
Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=928532
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