Maioria das crianças abrigadas está em processo de manutenção de vínculo, em uma difícil retomada dos afetos
Das 190 crianças institucionalizadas nos abrigos públicos geridos pelo Estado em Fortaleza, apenas 26 estão aptas para adoção. Somente 13% tem a chance de ganhar uma nova família. As outras ficam na espera por um futuro melhor, na busca pela difícil e demorada retomada dos vínculos e dos afetos com os antigos genitores. Amargam a triste sina de não terem um lar e pais para lhe acarinhar.
No Abrigo Tia Júlia, por exemplo, um casal de irmãos, aguarda há mais de três anos por uma decisão da justiça para ter o poder familiar destituído, para entrar na fila por novos amores. Foram abandonados ainda recém-nascidos e há tempos não recebem mais visitas de parentes. A Lei Nacional de Adoção estipula um prazo máximo de 120 dias para conclusão dos processos e obriga que a permanência em programas de acolhimento não passe de dois anos. O dia hoje é de mobilização em todo o país, na data em que se comemora o Dia da Adoção.
No Tia Júlia, quatro crianças ganharam novos pais. Entretanto, nenhuma das 82 teve sucesso na retomada dos vínculos com família biológica em 2011. A Vara da Infância, no Fórum Clóvis Bevilaqua, já soma 11 adoções na Capital e nove com processos iniciados. O cadastro contabiliza 366 pretendentes.
Dificuldades
Para a coordenadora do abrigo Tia Júlia, Luiza Helena Paiva, o ideal é que o abrigamento fosse uma situação esporádica e provisória, mas não tem sido. Muitas ficam na instituição por bem mais que dois anos, perdendo o direito à convivência social e familiar. "Priorizamos o retorno para a antiga casa, mas tem sido muito difícil. Os pais que abandonam ou negligenciam os filhos sofrem com problemas de droga, desemprego e fome, não conseguem se estabelecer com velocidade. Enquanto isto, a criança espera e sofre. Maioria nem recebe visitas", afirma.
Mas nem tudo é ruim. Por outro lado, centenas de casais demonstram interesse em adotar e esperam, com ansiedade na fila. A dona de casa Luiza Ramos, 35, e o marceneiro Geraldo Alves, 42, estão há 15 dias visitando a garotinha que querem, nos próximos dias, chamar oficialmente de filha. Ficaram quatro anos esperando o dia de colocar a pequena no colo. "A gente até estranhou a demora. Nem devia ser assim já que tem tantas abandonadas. Já que a família não quer, a justiça devia logo liberar para gente", ressalta a nova "mãe de coração".
Cautela
A decisão sobre os rumos dos "filhos do estado" não são fáceis, explica o desembargador Suenon Bastos, presidente da coordenação estadual dos Juizados da Infância e Juventude no Ceará. Para ele, o governo deve esgotar todas as possibilidade de volta do filho para o seu lar original, dando tempo para a família se recompor. "Toda decisão deve ser tomada com responsabilidade, pensando no melhor para a criança", diz. Para ele, o perfil esperado, da menina branca e recém-nascida, atrapalha o processo de adoção.
A promotora da 3ª Promotoria da Infância, Sofia de Melo, afirma que a longa e não justificada espera, na destituição e na adoção, pode causar prejuízo. "Todos devem ter direito à convivência familiar. Há muito descumprimento de prazo", frisa.
A orientadora da Célula de Atenção à Alta Complexidade da Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), Rita de Cassia Sidney, assegura que a eficácia de políticas públicas poderia diminuir bastante a quantidade de crianças abandonadas e abrigadas no Ceará.
"Por melhor que seja o abrigo, o lugar da criança não é lá, mas no seio da família, na biológica ou na nova", aponta.
IVNA GIRÃOREPÓRTER
Das 190 crianças institucionalizadas nos abrigos públicos geridos pelo Estado em Fortaleza, apenas 26 estão aptas para adoção. Somente 13% tem a chance de ganhar uma nova família. As outras ficam na espera por um futuro melhor, na busca pela difícil e demorada retomada dos vínculos e dos afetos com os antigos genitores. Amargam a triste sina de não terem um lar e pais para lhe acarinhar.
No Abrigo Tia Júlia, por exemplo, um casal de irmãos, aguarda há mais de três anos por uma decisão da justiça para ter o poder familiar destituído, para entrar na fila por novos amores. Foram abandonados ainda recém-nascidos e há tempos não recebem mais visitas de parentes. A Lei Nacional de Adoção estipula um prazo máximo de 120 dias para conclusão dos processos e obriga que a permanência em programas de acolhimento não passe de dois anos. O dia hoje é de mobilização em todo o país, na data em que se comemora o Dia da Adoção.
No Tia Júlia, quatro crianças ganharam novos pais. Entretanto, nenhuma das 82 teve sucesso na retomada dos vínculos com família biológica em 2011. A Vara da Infância, no Fórum Clóvis Bevilaqua, já soma 11 adoções na Capital e nove com processos iniciados. O cadastro contabiliza 366 pretendentes.
Dificuldades
Para a coordenadora do abrigo Tia Júlia, Luiza Helena Paiva, o ideal é que o abrigamento fosse uma situação esporádica e provisória, mas não tem sido. Muitas ficam na instituição por bem mais que dois anos, perdendo o direito à convivência social e familiar. "Priorizamos o retorno para a antiga casa, mas tem sido muito difícil. Os pais que abandonam ou negligenciam os filhos sofrem com problemas de droga, desemprego e fome, não conseguem se estabelecer com velocidade. Enquanto isto, a criança espera e sofre. Maioria nem recebe visitas", afirma.
Mas nem tudo é ruim. Por outro lado, centenas de casais demonstram interesse em adotar e esperam, com ansiedade na fila. A dona de casa Luiza Ramos, 35, e o marceneiro Geraldo Alves, 42, estão há 15 dias visitando a garotinha que querem, nos próximos dias, chamar oficialmente de filha. Ficaram quatro anos esperando o dia de colocar a pequena no colo. "A gente até estranhou a demora. Nem devia ser assim já que tem tantas abandonadas. Já que a família não quer, a justiça devia logo liberar para gente", ressalta a nova "mãe de coração".
Cautela
A decisão sobre os rumos dos "filhos do estado" não são fáceis, explica o desembargador Suenon Bastos, presidente da coordenação estadual dos Juizados da Infância e Juventude no Ceará. Para ele, o governo deve esgotar todas as possibilidade de volta do filho para o seu lar original, dando tempo para a família se recompor. "Toda decisão deve ser tomada com responsabilidade, pensando no melhor para a criança", diz. Para ele, o perfil esperado, da menina branca e recém-nascida, atrapalha o processo de adoção.
A promotora da 3ª Promotoria da Infância, Sofia de Melo, afirma que a longa e não justificada espera, na destituição e na adoção, pode causar prejuízo. "Todos devem ter direito à convivência familiar. Há muito descumprimento de prazo", frisa.
A orientadora da Célula de Atenção à Alta Complexidade da Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), Rita de Cassia Sidney, assegura que a eficácia de políticas públicas poderia diminuir bastante a quantidade de crianças abandonadas e abrigadas no Ceará.
"Por melhor que seja o abrigo, o lugar da criança não é lá, mas no seio da família, na biológica ou na nova", aponta.
IVNA GIRÃOREPÓRTER
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