domingo, 8 de maio de 2011

PESQUISA DO IBGE Crianças chefiam 4 mil lares no Estado do Ceará

Os dados retratam crianças que tiveram
rapidamente de assumir posturas e responsabilidades
                                                                 inerentes aos adultos, tendo o seu desenvolvimento
                                                                            e a sua infância comprometidos
                                                                                       FOTO: KID JÚNIOR


Estado ocupa terceiro lugar do Nordeste e o 11º do Brasil em domicílios chefiados por menores entre 10 e 14 anos
Responsabilidade e obrigação são palavras que, cada vez mais, têm feito parte do vocabulário de crianças e adolescentes em todo País. Estar à frente de uma casa, tomar conta de irmãos mais novos ou, ainda, contribuir com o orçamento familiar são tarefas presentes no cotidiano de meninos e meninas brasileiros. No Ceará, a situação não é diferente.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio do Censo 2010, o Estado conta com 4.210 domicílios chefiados por crianças com idades entre 10 e 14 anos. Dos nove estados nordestinos, o Ceará apresenta o terceiro maior número de residências nessa situação, ficando atrás apenas da Bahia, com 7.615, e de Pernambuco, com 4.965.

No ranking nacional, o Ceará ocupa a 11º colocação. Os dados preliminares revelam, também, que o Nordeste é a segunda maior região do País em quantidade de domicílios chefiados por crianças nessa faixa etária, respondendo pelo total de 27.116 residências. Enquanto o Sudeste ocupa a primeira posição do ranking, com mais de 60 mil domicílios. São Paulo é o Estado com o maior número de habitações comandadas por crianças, seguido pelo Rio de Janeiro e Minas Gerais.

O número de lares chefiados por menores de idade reflete, ainda, o trabalho infantil como um dos graves problemas sociais do Brasil e do Ceará. "Esses dados são preocupantes. Significa que a criança está desempenhando o papel de um adulto", ressalta Antônio Lima Oliveira, procurador do Trabalho.

Comprometidos
A pesquisa do IBGE retrata a realidade de crianças as quais, rapidamente, assumiram posturas e responsabilidades inerentes aos adultos, tendo o seu desenvolvimento e a sua infância comprometidos.

"Elas deveriam estar sendo providas para garantir seu desenvolvimento. Quando isso acontece, a criança cai em seu desempenho na escola ou abandona os estudos, além de perder tempo de lazer e a parte lúdica que fazem parte do processo de aprendizado. Esses são exemplos marcantes de infância perdida", alerta Raimundo Coelho, membro do Fórum Nacional de Prevenção e Combate ao Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente.

É assim que a jovem Francisca dos Santos, 20, sente-se ao lembrar dos seus tempos de menina. Com a mãe desempregada, aos quatro anos, ela começou a vender cocada de porta em porta com a irmã mais velha, para garantir o sustento da casa. "Meu padrasto, de vez em quando, fazia um bico como pedreiro. Mas não era sempre".

CENSO
27
mil domicílios no Nordeste são chefiados por crianças. O Sudeste ocupa a primeira posição do ranking nacional, com mais de 60 mil moradias


SOCIEDADE
Visão cultural é entrave
Hoje, Francisca é monitora de oficinas de artes e bricolagem na Associação Curumins, a mesma entidade que a ajudou a sair da condição de trabalhadora infantil. Ela retomou os estudos com o objetivo de realizar o sonho de se formar em artes cênicas. Porém, deixar de trabalhar para investir na sua formação não foi fácil.

"Com nove anos, comecei a participar das atividades da associação, mas ainda trabalhava. Foi uma luta, porque minha mãe preferia que eu trabalhasse. Só com o tempo, ela percebeu que eu poderia ter um futuro melhor", resume a monitora. Segundo Raimundo Coelho, um dos principais entraves no combate ao trabalho infantil é a visão cultural que a sociedade possui do problema.

"Existe permissividade e aceitação do trabalho infantil que são prejudiciais. Acredita-se que é positivo devido a exemplos de pessoas que trabalhavam, quando eram crianças, e hoje estão bem. Esses são poucos casos entre milhares. Você não pode pegar uma realidade e universalizar", afirma. Coelho destaca, ainda, a situação de vulnerabilidade social em que essas crianças se encontram aparece como outro agravante no combate ao trabalho infantil.

Políticas públicas
A falta de políticas públicas específicas também contribui para o problema. De acordo com o procurador Antônio Oliveira, é preciso desenvolver ações específicas que atendam às crianças e suas famílias, oferecendo programa de educação profissional e educação em tempo integral. "Os dados permitem saber onde elas estão. Isso é importante e ajuda a direcionar as políticas", ressalta Antônio Oliveira.


REGINA PAZ
ESPECIAL PARA CIDADE
 

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